"A nota de R$200? Nunca vi, nem sei como ela é. Às vezes acho que ela nem existe", disse o vendedor ambulante Weberton Ferreira, de 29 anos. Há um ano circulando por aí, a nota que "carrega" o lobo-guará não passa de mito para a maioria.
Das 11 pessoas questionadas sobre o assunto ontem no hipercentro de BH pelo Tempo, apenas três já viram a tal cédula. A nota virou o novo "nunca vim nem comi, só ouço falar".
O Banco Central encomendou 450 milhões de cédulas à Casa da Moeda – o custo ultrapassou R$ 113,8 milhões do orçamento esperado (R$ 459 milhões, previsto para 2020). Mesmo assim, até o último dia de agosto, pouco mais de 80 milhões delas estavam em circulação – 17,8%.
Não pegou
Para o economista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Mauro Rochlin, o fracasso se deu por dois motivos: alta no número de transações bancárias e popularização de transações por meios eletrônicos.
"Quando houve a pandemia e o governo decidiu atender 60 milhões de pessoas com o auxílio, nasceu a ideia de que havia necessidade de mais papel-moeda. Mas o que se viu é que as pessoas passaram a usar mais os meios eletrônicos", disse.
Precaução
A diretora do Banco Central, à época do lançamento da nota, disse que havia risco de faltar papel-moeda. As projeções apontavam necessidade de que R$ 105,9 bilhões fossem adicionados em cinco meses.
Pix supera o lobo-guará
Contrariando os relatos da população, o Banco Central garante que a circulação da cédula de R$ 200 está normal. "A produção e distribuição das notas seguem o cronograma planejado. O ritmo de utilização da cédula de R$ 200 vem evoluindo em linha com o esperado e deverá seguir em emissão ao longo dos próximos exercícios", informou, em nota.
O Edvan Sterquim, de 32 anos, está longe de concordar com a instituição financeira. Ele nunca chegou perto da nota do lobo-guará. "Ainda tem gente que paga em dinheiro, vejo ainda as notas de R$ 2, R$ 5 e R$10. Mas a maioria das vendas atualmente são feitas no Pix. Até prefiro, evita assaltos", disse. Ele vende pipoca e amendoim, no centro de BH, de segunda-feira a sábado.
Não dá nem pro churrasco
Se há algum tempo R$ 200 era muito dinheiro, atualmente a grana não dá para fazer "festa". Conforme o site Mercado Mineiro, o preço da gasolina, em média, é de R$ 6,10. Ou seja, com a nota do lobo-guará daria para comprar pouco menos de 33 L do combustível, o que não enche o tanque nem de um carro popular.
Fazer churrasco, então, nem pensar. O preço do quilo da alcatra, chega a passar dos R$ 40, conforme o site – seria suficiente para cinco quilos. Já de cerveja, a R$ 5 a lata, seria possível comprar 40 unidades. (Aline Diniz)
Por Jornal O Tempo