O ator Tarcísio Meira morreu nesta quinta-feira(12), após seis dias internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratamento de complicações decorrentes da Covid-19. A esposa dele, a atriz Glória Menezes, 86 anos, também contraiu a doença e foi internada no mesmo hospital, mas, segundo informações da sua assessoria, teve apenas "sintomas leves" e brevemente terá alta hospitalar.
O casal, consagrado após mais de meio século de papéis na dramaturgia, já havia recebido as duas doses da vacina CoronaVac, produzida em parceria entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan. Tarcísio e Glória receberam a segunda dose da vacina no mês de março. Portanto, há havia passado o prazo de imunização, previsto no esquema de vacinação.
Circula em redes sociais, uma postagem que usa uma publicação com a notícia da morte do ator por Covid-19 para indicar que ele teria morrido por culpa da vacina. Na foto da publicação, o autor risca um trecho da manchete "Morre o ator Tarcísio Meira, aos 85 anos, vítima de Covid-19". A expressão riscada é "Covid-19" e embaixo foi escrito "vítima da vacina".
Ainda na postagem, o responsável pela publicação dá a entender que "a mídia não é sua amiga". Ou seja, levanta suspeita sobre a informação de que a Covid-19 provocou a morte do ator.
O médico Munir Ayub, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia(SBI), explica que nenhum imunizante garante eficiência absoluta contra o vírus, mas a imunização coletiva ajuda na queda de mortalidade e de casos graves:
"Nenhuma vacina, incluindo a da Covid, dá 100% de proteção. Sempre a proteção é parcial. A vacina da Covid tem como ideia diminuir a mortalidade e os casos graves. Então, hoje, se a gente for pegar as pessoas que estão morrendo, 95% não foram vacinadas ou completamente imunizadas. A estatística hoje é que apenas 3,7% das mortes são de pessoas vacinadas. Infelizmente o Tarcísio Meira está nessa pequena porcentagem de pessoas vacinadas que evoluíram mal".
Pesquisadores da Universidade de Harvard(EUA) e da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, avaliaram os impactos da vacinação sobre a saúda de idosos brasileiros. A pesquisa concluiu que a escalada de vacinação desta faixa etária está diretamente relacionada com a queda na mortalidade entre os mais velhos, quando comparado aos mais jovens.
Segundo o estudo, na comparação entre o período de janeiro e fevereiro(quando a segunda dose ainda não havia sido aplicada na maior parte dos idosos) e abril houve uma queda de 25% para 13% no número de mortes das pessoas acima de 80 anos.
Segundo os resultados revelados pelo Instituto Butantan e pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), referentes à CoronaVac, a eficácia do imunizante contra a Covid-19 seria de 100% em casos graves e moderados, que envolviam hospitalização e UTI.
Em razão disso, pessoas que contestam as vacinas contra Covid-19 usaram a morte do ator(que foi vacinado com Coronavac) para fazer levantar dúvidas sobre o imunizante, que foi aprovado para uso em janeiro deste ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O médico Munir Ayub, no entanto, afirma que há diferenças entre a eficácia vista nos testes clínicos e a eficiência da CoronaVac na "vida real":
"Eficácia é uma palavra que a gente usa para trabalhos e estudos. Eficiência é a vida real. No trabalho da CoronaVac, foram escolhidos para os testes profissionais de saúde de até 55 anos, saudáveis, trabalhando, é um grupo de pessoas. Quando começamos a fazer vacina para idosos, com comorbidade, imunodeficiência, é logico que o resultado fica menor do que a eficácia. Por isso falamos que eficiência é vida real, eficácia é trabalho", afirma.
Segundo dados do Ministerio da Saúde, até o dia 8 de agosto, 36,6% das doses de vacina aplicadas em brasileiros eram CoronaVac. Em números absolutos, são mais de 53,4 milhões de aplicações. O número expressivo tambem mostra a importância deste imunizante para a cobertura vacinal e melhora nos índices da pandemia no Brasil.
De acordo com o coordenador do sistema Info-Gripe, dirigido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes, a vacinação é essencial para diminuir o número de óbitos por conta da pandemia. O especialista atribui a redução no número de internações e mortes à cobertura avançada da vacinação das faixas etárias maiores.
Em São Paulo, Estado com maior cobertura vacinal do Brasil, no dia 7 de agosto a média móvel sofreu uma redução de 70% nos números de óbitos e internações. Com menos de 5 mil pessoas internadas em leitos de Terapia Intensiva, a cidade registra marca inédita desde 3 de janeiro.
Na primeira semana de agosto de 2020, a taxa de ocupação de leitos no estado era de 59,1% e na Grande São Paulo, 57,6%. Já no mesmo período de 2021, as taxas de internações no Estado são de 46,6% e de 42,7% na Grande São Paulo.
O conselheiro da Casa Branca para crises sanitárias, Anthony Fauci, afirmou em entrevista à NBC News, em julho, que 99% das mortes por coronavírus no país são de pessoas não vacinadas. Rochelle Walensky, diretora do CDC (Centro de Controle de Doenças), afirmou que entre os hospitalizados com Covid-19 nos EUA, 97% deles não se vacinaram.
A Médica Infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, por sua vez, afirma que a "genética e as comorbidades" de pessoas já vacinadas podem interferir na forma em que o vírus age no corpo humano, e alerta para o prospecto da pandemia:
"Vacinar é importantíssimo e manter as medidas restritivas também, e ter atenção para o futuro que ainda não está desenhado pela Covid-19 e seus pontos fora da curva, que são suas mutações".
Em nota emitida por Carlos Moura, colaborador da Anvisa, a agência ressalta que "A vacina reduz a chance de ter a doença e reduz significativamente a chance de não evoluir para um quadro sintomático ou grave." Moura afirma que nenhuma vacina para Covid, assim como outras vacinas já produzidas, é 100% eficaz e é por isso que é necessário "ter a grande maioria da população vacinada, o que efetivamente contribuirá para a reduzir a circulação do vírus e a chance de adoecimento.".